Sobre a jornada de Fisher
Allan Fisher (1913-1988) começou sua carreira em fotojornalismo em 1934, trabalhando primeiro para o The New York World Telegram e posteriormente para o jornal PM. Em 1942, ele foi convidado por Alexander Murphy, um ex-editor do PM, para trabalhar para o Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA) documentando a colaboração entre o Brasil e os Estados Unidos em iniciativas da Política de Boa Vizinhança.
Sua principal função era produzir conteúdo sobre o Brasil para a imprensa e o público dos EUA. O Brasil havia declarado guerra às potências do Eixo em agosto de 1942 e era mais novo aliado dos EUA na América do Sul. Enquanto estava no Brasil, Fisher fotografou temas e contextos variados, incluindo não apenas o esforço de guerra, mas também a indústria, figuras notáveis e políticos influentes (Schmidt e Fisher, 1989).
Em 1943, Fisher passou três meses no Chile documentando a ruptura das relações com as potências do Eixo e, depois, viajou pela América Latina cobrindo a visita do vice-presidente dos EUA, Henry A. Wallace.
Ele também contribuiu para a revista Em Guarda / En Guardia (em suas versões em português e espanhol), produzida pelo OCIAA para disseminar propaganda de guerra na América Latina (De Souza, 2012). Em 1944, Fisher foi enviado à Europa para documentar a cooperação entre tropas brasileiras e americanas no front italiano. O OCIAA colaborou estreitamente com o governo brasileiro, então sob o governo autoritário de Getúlio Vargas e seu Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
Ao retornar ao Brasil em 1945, Fisher realizou uma exposição com suas fotos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) em treinamento e em combate na Itália, o que lhe rendeu uma medalha de honra do governo brasileiro para correspondentes de guerra (Andrade 2008, 9).
Ele também viajou para a Amazônia para documentar a colaboração entre o OCIAA e o estado brasileiro em iniciativas de saúde pública por meio do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP). Seu objetivo era criar imagens positivas do Brasil para os relatórios do OCIAA e para a imprensa dos EUA, exibindo as contribuições do SESP e do OCIAA para a modernização da saúde pública no Brasil, incluindo novas instalações médicas na Amazônia, distribuição de medicamentos antimalária e assistência médica para trabalhadores da borracha — um produto estratégico para o esforço de guerra (Andrade 2019).
Fisher permaneceu no Brasil até 1955, trabalhando principalmente com a divisão de cinema do Serviço de Informações dos EUA (USIS). Naquele ano, ele serviu por três meses como Oficial de Relações Públicas (PAO) em Lima, Peru, sob o comando do embaixador Ellis O. Briggs, que mais tarde se tornaria o embaixador dos EUA no Brasil (de 1956 a 1959) (Schmidt, 1998).
Durante seu tempo no Brasil e na América Latina, Fisher se tornou um propagandista habilidoso, estabelecendo conexões importantes dentro do Departamento de Estado dos EUA e, após 1953, da Agência de Informações dos Estados Unidos (USIA).
Essa rede de contatos abriu caminho para que ele se tornasse Adido Cultural e Vice-Cônsul dos EUA em São Paulo entre 1966 e 1972, depois de trabalhar com a USIA na França e no Vietnã.
Alan Fisher Fotojornalismo
Fisher, como muitos fotógrafos de sua geração, foi influenciado pela ascensão do fotojornalismo durante o período entreguerras. As melhorias na tecnologia de impressão após a Primeira Guerra Mundial levaram à ampla incorporação da fotografia em jornais e revistas.
A década de 1920 testemunhou o florescimento do fotojornalismo na Alemanha, que rapidamente se estendeu ao Reino Unido e aos EUA. A criação da revista semanal LIFE em 1936 marcou um momento crucial, enfatizando a fotografia como um meio dominante de comunicação e priorizando a narrativa visual em vez do texto escrito. No Brasil, essa tendência se manifestou no lançamento da revista semanal O Cruzeiro na década de 1940 (Peregrino 1991).
Outra grande influência na perspectiva fotográfica de Fisher foi a ascensão da fotografia como documentário, ou concerned photography, um termo introduzido por Cornell Capa (1918-2008) para descrever fotógrafos engajados com questões sociais (Mauad 2014, Andrade 2019, Bair 2022).
A década de 1930 foi marcada pela emergência da fotografia documental, financiada pelo estado para retratar os impactos severos da Grande Depressão, assim como as políticas do New Deal de Roosevelt para reduzir a pobreza entre os trabalhadores rurais por meio da Farm Security Administration (FSA). Nesse contexto, fotógrafos renomados como Walker Evans, Dorothea Lange e Gordon Parks produziram imagens inesquecíveis que se tornaram representações icônicas do New Deal.
A posição de Fisher como fotógrafo do OCIAA durante a Segunda Guerra Mundial, e seu trabalho posterior para o Departamento de Estado dos EUA e para a USIA, exigiam que ele retratasse o Brasil como uma nação subdesenvolvida mas em rápido processo de modernização — um país que poderia se beneficiar do alinhamento e da cooperação com os EUA, posicionando-se assim como um parceiro estratégico para a influência geopolítica dos Estados Unidos na América do Sul.
No entanto, esse contexto também é marcado por contínuos esforços das autoridades brasileiras para gerenciar a imagem do Brasil exterior.
Nesse sentido, as imagens produzidas por Alan Fisher têm um papel crucial na formação das relações Brasil-EUA durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. Sua trajetória — de talentoso fotojornalista a funcionário do governo americano e, posteriormente, membro do corpo diplomático — nos oferece um novo ângulo sobre o desenvolvimento do aparato de propaganda dos EUA no Brasil.
Series fotográficas
Filmes do USIE em Alvinópolis, Brasil
O relatório visual intitulado “USIE Motion Pictures em Alvinópolis, Brasil” foi enviado ao Departamento de Estado dos EUA em 15 de agosto de 1950. Essa série fotográfica foi incluída em um memorando escrito por Alan Fisher com o assunto: “My visit to Farmer’s Week in Alvinopolis, Minas Gerais, July 28-30, 1950”.
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As fotos desta série foram tiradas no Município de São José do Vale do Rio Preto (SJVRP), no Estado do Rio de Janeiro, e incluem imagens de trabalhadores rurais em Córrego Sujo, uma vila a cerca de 24 quilômetros (15 milhas) de distância da cidade de SJVRP.
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Estas imagens foram tiradas entre janeiro e setembro de 1950 no Rio de Janeiro e em São Paulo como amostras das projeções organizadas pelo Serviço Social da Indústria (SESI) usando filmes do USIS/USIE.
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Esse relatório deixa claro que as escolas públicas do Rio de Janeiro faziam parte de um programa bem-organizado de exibições de filmes da USIE/USIS em colaboração com o Departamento de Educação tendo como público-alvo filhos de trabalhadores.
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Essas imagens foram tiradas por Alan Fisher em 1945 e atualmente fazem parte do acervo Gustavo Capanema no FGV CPDOC. Fisher viajou para a Amazônia para documentar a colaboração entre o OCIAA e o estado brasileiro em iniciativas de saúde pública por meio do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP).
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